Os dois maiores mentores da agricultura sintrópica no mundo têm suas propriedades no Brasil, no interior da Bahia. Assistimos todos os vídeos de Ernst Götsch e Henrique Sousa no YouTube e o fascínio foi imediato, queríamos ver de perto. Agricultura sintrópica é o termo designado a um sistema de cultivo agroflorestal baseado no conceito de sintropia - princípio contrário ao de entropia, ou seja, trazendo mais energia pro ambiente. Imagina que maravilhoso deixar o espaço melhor do que quando você chegou? Além de trazer a floresta para agricultura, com agrofloresta, o conceito expandiu, precisávamos entender o sistema, a interação entre as espécies, o interesse pelo conhecimento da natureza despertou na gente.
Semanas depois da nossa descoberta estávamos chegando no interior da Bahia, em Jaguaquara, onde entramos em uma imersão com o engenheiro agrônomo Henrique Sousa, da Fazenda Agrofloresta Ouro Fino (@agroflorestaourofino). Henrique dispensa apresentações. É simplesmente o brasileiro com maior experiência no assunto. Tem muito carisma, paciência, didática para ensinar a parte técnica e também lições de vida. E o melhor, tudo com aquele humor e leveza característico dos baianos.

Nos dias em que ficamos na fazenda, aprendemos que é possível fazer uma floresta em uma área que o sistema agrícola havia degradado. Vivenciamos diversas áreas de plantio em sistema de agricultura sintrópica, podendo ver a evolução em 5 meses, 2 anos, 5 anos, 10 anos, 20 anos até o plantio mais antigo de 25 anos. Ao comparar o que estávamos presenciando naquela fazenda com a realidade dos terrenos vizinhos, podíamos saber o quanto podemos melhorar o ambiente.

Aprendemos sobre os princípios da Agricultura Sintrópica, sobre como podemos planejar cada fase , ciclo, diversidade e os estratos da sucessão temporal. A importância de sempre estar com o solo coberto, e particularmente, um dos maiores aprendizados do curso foi a poda/corte. Antes víamos como uma ação de impacto negativo, prejudicial. E pode ser, não é? Se feito sem consciência pode sim ser problemático. Se feito adequadamente, permitirá maior entrada de luz solar para o desenvolvimento das espécies e biomassa indo ao solo; melhorando o sistema.
Outra mudança de visão urbana, em que tudo é separado, na floresta a diversidade faz as plantas crescerem com mais nutrientes, mais fortes. Ao invés de ver grandes espaços com monocultura, lá pudemos caminhar experimentando um mangostão, marangue, cacau, cupuaçu ou rambutan e uma diversidade de frutas que fica até difícil lembrar. Aprendemos que alface pode estar plantado junto com mandioca, milho, cacau, castanha da amazônia e tudo bem, elas irão se ajudar e o você poderá ter um alimento delicioso enquanto melhora a diversidade do lugar.

Tantos conhecimentos que foram além do assunto específico e somaram para nossas vidas. Pessoas que a gente conhece, histórias que compartilhamos e experiências que vivemos ali juntos. Ponto alto dessas experiências lá no sítio, foram as refeições. Todas! Uma melhor que a outra!
Seguro que foi a semana mais bem alimentados da vida. Era o conjunto: qualidade com tudo produzido ali, natural, e com o mínimo de processamento. Variedade. Nossa Mata Atlântica é muito rica e abundante. Uma fartura na mesa. E pra completar, o carinho e habilidade de Rose comandando a cozinha.

A hora de ir embora parecia o "acordar de um sonho maravilhoso". Quantos amigos desejamos que estivessem ali compartilhando daquela experiência? Daria uma boa lista. Sabe quando se "pensa alto"? Você fala qualquer ideia e desejo na conversa. Numa dessas um de nós foi longe e imaginou o Henrique lá no nosso sítio, dando um curso. Imagina só!
De volta ao sítio, hora de colocar os aprendizados em prática. A gente sai de um curso ou aula confiante que já sabe fazer né? Mas com as ferramentas na mão começam a surgir algumas dúvidas e então notamos que é preciso estudar mais, perguntar e às vezes arriscar. Errar faz parte do processo e o medo não pode travar nosso crescimento. Consciência, observação, perseverança e vamos em frente.
Nosso sítio, aqui em Camboriú (SC), tem um histórico ligado a cultura do café e da banana, principalmente. Pense que estamos dentro da Mata Atlântica catarinense, no meio da floresta. Uma família que viveu aqui cerca de 40 anos atrás, comercializava e manejava pés de café e bananeiras. Então tem uma infinidade de bananeiras por aqui, e isso nos ajuda muito!
Encorajados de podar e cortar, fomos exercitando. Visualiza aqui o início das nossas linhas agroflorestais com essa biomassa fazendo sua parte.

E as primeiras culturas plantadas começam a aparecer. É lindo acompanhar o processo.

Aí a vida nos pega de surpresa... Clica aqui pra ler a PARTE 2 dessa história.